"She dances while his father plays guitar
She’s suddenly beautiful"
Counting Crows – "Mr. Jones"
Flamenco. Sensualidade. Força. Desejo. Um dia eu ainda vou fazer uma cagada por uma dançarina de flamenco. A música é inexplicavelmente complexa e bela. O ritmo é febril, pois é o ritmo do próprio corpo. Olhares, alma. Eu ainda vou ter uma dançarina só pra mim! Cabelos e olhos negros, pele morena. Isso, como aquela.
Meu Deus! Vou pegar mais conhaque... Pronto!
Eu fico louco com o espírito fogoso dessa dança. Paixão rude. O salto de sua bota parece estar pisoteando minhas vísceras, ela olha pra mim, e eu não consigo mais tirar os olhos dela. Quem quer princesinhas inocentes??? Essa mulher é um caldeirão fervente! Ela não tem dono, faz o que quer.
Outra dose de conhaque.
Ela não pára mais de me olhar... e se aproxima. Vem dançar na minha frente. Brinca com seu corpo, suas curvas, usa suas armas. O ritmo acelera, o sapateado rasga angustiado minha cabeça. Cada vez mais perto. Posso agora sentir seu perfume selvagem, silvestre. Ela está suada e linda! Em um de seus volteios, ela pára a centímetros de minha boca. Eu perco o controle e a tomo em braços.
Súbito a música estanca.
O violonista larga o violão e puxa uma faca. Brilhante, fria.
Um grito.
Minha boca está amortecida, mas não é o conhaque.
Ainda vejo o cigano pegar a mulher pelo braço e ir embora.
Estranho... a mulher parece ter a pele e o cabelo claros agora.
Há pessoas em volta de mim. Seus rostos estão aflitos, mas o meu sono está vindo tranqüilo. Do meio dos rostos turvos, uma figura nítida me puxa pela mão. É a dançarina morena. Ela sorri para mim e me abraça... ela é fria como a morte.